quinta-feira, junho 07, 2007

As palavras

As palavras aspiram ao inicial ao puro percurso
que não corresponde a nenhuma linha de universo
A sua liberdade é uma volúvel coerência
em torno do evanescente fulgor de um móvel oriente

Elas rompem oblíquamente o silêncio em frémitos minerais
respirando o fúnebre perfume do vácuo
e caminham com a agilidade inaugural do sémen da língua
figurando a sua génese numa abertura ao nada

Se fluem como a mão nua da água
e sobre a surdez do mundo deixam um ténue rastro
é porque a sua trama é a maresia do seu sopro
e ao ritmo da respiração o seu horizonte ondula


António Ramos Rosa, in "As Palavras",
Campo das Letras