segunda-feira, maio 07, 2007

só amamos aquilo que amamos em vão

Ode à Alegria

Só amamos aquilo que amamos em vão.

Tenta outra sonda de rádio
quando dez tiverem falhado,
toma duzentos coelhos
quando cem tiverem morrido:
só isso é ciência.

Perguntas o segredo.
Tem só um nome:
de novo.

No fim

um cão traz nas mandíbulas
a sua imagem na água,
pessoas fixam a lua nova,
amo-te.
Como cariátides

os nossos braços erguidos
seguram o peso de granito do mundo

e derrotados

venceremos sempre.
Miroslav Holub-"Qual é a Minha ou a Tua Língua",

org.Jorge Sousa Braga,Assirio&Alvim

Amor

Dois mil cigarros
E uma centena de milhas
De parede a parede.
Uma eternidade e meia de vigílias
Mais brancas que a neve

Toneladas de palavras velhas
como pegadas
de um ornitorrinco na areia.

Uma centena de livros que ficaram por escrever.
Uma centena de pirâmides que ficaram por construir.

Lixo.
Pó.

Amargo
Como o princípio do mundo.

Acredita em mim quando o digo
Que foi belo.


Miroslav Holub-in"Qual é a Minha ou a Tua Língua",

org.Jorge Sousa Braga,Assirio&Alvim

Miroslav Holub, poeta e cientista nasceu na Checoslováquia em 1923. Várias vezes nomeado para Prémio Nobel da Literatura morreu em Praga em 1998.